terça-feira, 16 de setembro de 2008

DOM AFFONSO GREGORY, ÚLTIMO LEGADO


Ordenado sacerdote em 25 de fevereiro de 1956 e eleito bispo em 8 de agosto de 1979, Dom Affonso Felippe Gregory serviu à Igreja ao longo dos últimos 52 anos nas mais variadas frentes da missão, completando essa constante doação de seu entusiasmo e de sua inteligência, já como Bispo Emérito de Imperatriz, na função de membro da Comissão Episcopal Pastoral para a Cultura, Educação e Comunicação Social.
Tendo encerrado o longo tratamento a que se submetera no primeiro semestre deste ano e acreditando ter superado o momento mais grave de sua doença, Dom Gregory participou ativamente do encontro Anual da Comissão Episcopal, em Aparecida, nos dias 1º e 2 de julho, contribuindo com sua experiência e sua sólida formação acadêmica.
No dia seguinte ao Encontro, estando em minha casa e devendo voltar a Imperatriz naquela tarde, Dom Gregory, depois de expor muitas idéias sobre a Pastoral da Cultura, demonstrando o entusiasmo e a alegria que esse encargo lhe havia propiciado, quis deixar por escrito algumas de suas idéias, devendo esse escrito guiar de certa forma as ações por ele programadas e que agora procuraremos concretizar.
Esse manuscrito, que ficará guardado na Comissão Episcopal como seu último legado, testemunha o amor de Dom Gregory à missão pela qual deu sua vida, com inteligência, sabedoria e fidelidade ao Evangelho de Jesus Cristo. Sua publicação é a homenagem que a Pastoral da Cultura presta a Dom Affonso Felippe Gregory, que no dia 8 de agosto foi acolhido na Casa do Pai:
Espera-se que possa ser de utilidade à Pastoral da Cultura a definição do que entendemos por cultura. As definições existentes são muitas. Optamos pela que segue: “A cultura é o modo próprio de ser de uma determinada pessoa, família, grupo, comunidade, povo, em cada tempo e lugar”. Assim sendo as culturas são variadas conforme o tempo e lugar. Esse modo de ser se “constrói, se cultiva” ao longo da história pelas formas variadas como as pessoas agem e interagem entre si, se relacionam com a natureza (trabalho) e o transcendente. A. Gaudium et Spes descreve essa ação e interação da pessoa como segue:

“O ser humano desenvolve e aperfeiçoa os seus diferentes dons da alma e do corpo. Procura dominar a terra com seu conhecimento e trabalho. Procura tornar mais humana a vida social, tanto familiar como civil, com o progresso dos costumes e das instituições. Finalmente, exprime, comunica e conserva, por meio de suas obras, suas grandes experiências espirituais e seus desejos de todos os tempos, para o proveito de todo ser humano. Nesse sentido, fala-se de pluralidade de culturas. Das diversas maneiras de utilizar as coisas, de trabalhar e de se exprimir, de prestar culto religioso, de educar, de legislar e de organizar instituições sociais, de progredir no saber e nas artes e de cultivar o belo, nascem a diversidade nas condições de vida e as várias formas de entender o que é bom para o ser humano” (1494).

Os cristãos católicos, fazendo parte das mais diferentes culturas existentes, participam, de um lado, do modo de ser dessas culturas, porém, ao mesmo tempo têm algo diferente, seu modo de ser cristão. Pensam, falam e agem conforme o exemplo e as palavras de seu Mestre Jesus Cristo. Se todos os cristãos pusessem em prática isso o mundo seria bem melhor, pois o Reino de Deus inserido nele o transformaria como o fermento transforma a massa. (Dom Affonso Felippe Gregory, São Paulo, 03.07.08)
Essa compreensão da cultura e do papel que nela devem desempenhar os cristãos católicos é uma pista segura para as ações que a Pastoral da Cultura deve desenvolver daqui por diante. Era desejo de Dom Gregory oferecer ao Episcopado do Brasil uma proposta de reflexão sobre o que ele chamava de “eixos” para o diálogo com a cultura: Fé e Cultura, Pessoa Humana e Cultura, Valores Cristãos e Cultura, Ciência e Cultura, História e Cultura, Ecologia e Cultura. Pretendia pedir aos Regionais e Dioceses a indicação de nomes de pessoas que desenvolvessem esses eixos, fazendo disso uma porta para o diálogo da Igreja com a Cultura.
Junto ao Pai, no seio de Quem se encontra, Dom Affonso Gregory há de interceder pelos pobres a quem dedicou sua vida, pela justiça com a qual esteve sempre comprometido e por esse diálogo que tanto o fascinou em seus últimos tempos entre nós.
Que Deus abençoe! O trabalho que deve continuar.




Affonso Felippe Gregory
* 06/02/1930 + 08/08/2008




Dom Orani João Tempesta, OCist
Presidente da ComissãoEpiscopal Cultura, Educação e Comunicação Social

Província Brasileira Central